sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A japa fashion e o assédio sexual

Tenho me divertido muito com o “multi-culturalismo” de Vancouver. Trabalhar com pessoas de diversas nacionalidades é no mínimo curioso. Estava trabalhando numa empresa que 70% dos funcionários eram extrangeiros. Minha mesa ficava próxima às mesas de duas coreanas, um colombiano, duas tailandêsas, uma chinesa, um brasileiro e duas japonesas. Sem contar com a russa, o turco, a iraniana, a árabe, e os outros orientais da sala ao lado. Eu escutava todas essas línguas durante o dia e já estava começando a adivinhar o que algumas palavras significavam! Só o chefão era canadense, e daqueles super conservadores. Quando eu estava conseguindo decorar nomes como: Niloufar, Nagham, Oguzhan, Mijin, Juhwa, Joylin, Min-Soo, etc, eu saí da empresa...

Eu sempre quis saber distinguir os orientais pela nacionalidade e finalmente estou ficando boa nisso! Pelas roupas, estatura, formato do rosto e dos olhos eu já consigo dar um bom palpite se a pessoa é do Japão, China ou Coréia. Os filipinos e tailandeses são os mais fáceis de distinguir. Pelos nomes também é fácil. Os sobrenomes japoneses geralmente são familiares para quem vem de São Paulo; os coreanos geralmente tem 3 nomes sendo que dois deles tem no máximo 3 letras. Infelizmente quando estou no transporte público exercitando minha brincadeira favorita "de onde aquele japa é" (japa aqui inclui todas as pessoas de olhos puxados) não consigo saber se acertei ou não, a não ser que eu comece a perguntar “Where are you from?” para todo mundo, e solte uns “I knew it!” ou “Damn it!” como resposta!

Voltando a falar da minha ex-empresa. Sendo uma empresa grande, com tanta diversidade cultural (e muita rotatividade também) a empresa criou um manual de regras e conduta profissional que o funcionario deve ler quando começa a trabalhar. No meu primeiro dia, fiquei na minha mesa lendo o tal do manual e me segurando para não dar risada… Não vou conseguir me lembrar de tudo o que o manual dizia, tinha coisas do tipo: “Higiene é muito importante. Escove os dentes, penteie os cabelos, tome banho todos os dias”. Na seção dressing code tinha até figurinhas de certo e errado. Mas o que mais me impressionou, foi a sessão sobre sexual harassment (assédio sexual). Tinha mais de duas páginas dando exemplos do que pode ser considerado como assédio sexual. É claro que não vou me lembrar de tudo, mas tinha coisas assim “são consideradas condutas de assedio sexual: fazer comentários sobre as roupas dos colegas, piscar, dar presentes, etc, etc, etc." Chegava a ser hilário…

Bom, tinha uma japonesinha que trabalhava la que parecia uma modelo de catalogo da Someday (minha ex-loja). Cada dia ela ia com um look mais descolado, daquele tipo que a gente acha lindo mas não tem coragem de usar. Dava vontade de tirar foto dos looks dela todo dia, e mesmo fashion desse jeito ela tinha um ar super profissional com os óculos estilo Rayban anos 80 de grau. Teve um dia que ela estava tão fashion e tão lindinha com um shortinho, meias até o joelho, salto alto, camisa e suéter gola V, que eu, muito espontaneamente virei para ela e disse “You look stunning today!”. Timidamente, o colombiano entrou na conversa com aquele sotaque característico que faz qualquer frase parecer um “galanteio” (de onde ue tirei essa palavra tão antiga?) dizendo: “I wanted to say the same thing, but, you know… the manual… sexual harassment…” A partir daí acho que a paquera intercontinental entre os dois engatou. Só espero que eles não sejam punidos e banidos da empresa, se não a culpa vai ser minha!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Um mês de vida estrangeira

Hoje completa um mês que cheguei a Vancouver. Os últimos 3 meses parecem ter sido surreais. Quando olho para trás e vejo o quanto de emoções vivi nesse tempo, parece ter passado uma vida inteira, mas em fast-forward. Por mais que eu viesse me preparando para a mudança há tempos, a quantidade de sensações inéditas e emocionantes foi tão grande que acho que minha mente mal pôde processar. As lembranças são como imagens de um trailer, imagens e sensações jogadas e desordenadas. O nó na garganta no meu último dia de trabalho, as lágrimas que saíram sem que eu pudesse controlar.  As inúmeras despedidas, a alegria de me sentir tão especial para tantas pessoas e ao mesmo tempo a tristeza de ter de me distanciar delas. O aconchego de voltar para casa dos meus pais por uns tempos, o sentimento de não ter mais casa. O desapego e a saudade. O alívio de deixar para trás coisas e rotinas que eu não queria mais. A impotência sobre o meu sono, o vidro de floral se esvaziando. O desespero de estar no meio de um furacão com mil coisas acontecendo ao mesmo tempo. A espera por documentos, o fugir da espera me desligando do mundo. Ter de fazer caber uma vida dentro de 3 malas. A tristeza de dizer adeus aos sobrinhos. "Por que a tia Marina tá chorando?". O frio na barriga e o medo de algo dar errado. Uma mistura de tristeza profunda e alegria imensa. O conforto de ter meu amor ao meu lado. A emoção de cumprir um objetivo. Explorar o desconhecido, encarar desafios. Ter medo, ter coragem. Descer degraus, começar do zero. Sentir alívio, sentir receio. Enterrar o passado, viver o novo. Explorar, sentir, amar.

Essa é minha nova casa.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

El riesgo es que te quieras quedar

O perigo é você querer ficar - Esse é o slogan do departamento de turismo da Colômbia. Definitivamente não corri esse risco! Embora seja um destino interessante, não é um lugar que eu gostaria de morar.

Havia um bom tempo que eu queria visitar a Colômbia (bendito Discovery Travel & Living!). Era o país que faltava para eu completar a lista de países da América do Sul que eu tinha vontade de conhecer. O Luiz não queria ir de jeito nenhum, precisou de anos para eu convencê-lo, mas do nada a oportunidade surgiu, e lá fomos nós.

Bogotá não foge muito do padrão metrópole latina de colonização espanhola, mas me surpreendeu. A parte histórica embora um pouco degradada e sujinha é bacana. Tem museus ótimos e gratuitos. Como tivemos muito pouco tempo lá, não conseguimos ver muita coisa. Fomos no Museu Botero que é muito legal, tem diversas obras dele algumas de outros artistas como Renoir, Dalí, Chagall, Delvaux, Giacometti, Picasso, Miró, entre outros. Grátis!! Também pegamos o bondinho para o Cerro Monsserrate que tem uma vista maravilhosa para a cidade. Apesar do caos do trânsito na cidade (muitos carros, buzinas incessantes, respeito nenhum aos pedestres - pior que no Brasil) me impressionei com o planejamento urbano. Com exceção da zona central, todos os prédios da cidade tem altura limitada, o que dá um aspecto muito agradável e não tira a luminosidade. As ruas são largas e a cidade é rodeada por morros com a mata preservada e sem favelas. É claro que se vê pobreza, mas bem menos que eu imaginava. Gostei muito do Café Juan Valdez, que se vê por toda a cidade num estilo Starbucks mas com café de verdade.

Em seguida fomos para Cartagena de Indias. A parte histórica (cidade murada) é muito linda e bem conservada. A parte nova também é bem bonita. Tirando a "faixa de Gaza" (gíria do Luizão, é claro!) que nós precisávamos atravessar para ir do hotel até a parte turistica que parecia a 25 de Março... Há turistas do mundo inteiro na cidade e muita coisa para ver e fazer. As praias da cidade não são muito boas, mas fomos de lancha para a Playa Blanca e conseguimos ver em Cartagena uma verdadeira praia do Caribe.



De lá pegamos um voo para San Andrés, uma ilha próxima à Costa Rica mas que pertence à Colombia. Eu costumo estudar bastante os destinos antes de viajar, mas acabei não lendo nada sobre San Andrés e deixei como "destino surpresa". Pegamos um taxi do aeroporto ao hotel e só vimos uma parte bem feinha da ilha, parecia periferia dessas cidades do nosso litoral. Havia centenas de motinhos tipo vespa com três, quatro, até cinco pessoas, às vezes até cachorro, todo mundo sem capacete. Apesar das dimensões reduzidas, o trânsito assim como em Cartagena e Bogotá era caótico e motoristas mal-educados. Chegamos no hotel, e ficamos aliviados ao ver a praia! Simplesmente maravilhosa. No final do dia, resolvemos pegar um ônibus para o centro, também sem saber o que tinha por lá. Foi "pitoresco" - o motorista indo a milhão nas ruas estreitas, esburacadas e cheias de gente. Não sabíamos onde tinhamos que descer, mas quando começamos a ver umas coisas mais bonitas descemos, e descobrimos (o que provavelmente todo mundo que vai a San Andrés já sabe antes de ir) que lá é zona de livre comércio, então dá-lhe free shop! Essa parte da cidade é bacana, a praia do centro maravilhosa, mar azul e areia branca, e um agradável calçadão com várias lojas. Com a proximidade da nossa mudança para o Canadá, não podemos comprar nada, mas acabamos comprando uma coisa muito útil: malas! Super baratas! E lá vamos nós no busão carregando nossas novas malas!


Uma outra coisa que deixou minha viagem para a Colômbia ainda mais interessante foi o fato de estar lendo o livro da Ingrid Betancourt (No hay silencio que no termine). É curioso como sou fascinada por ela desde antes de ter se tornado tão famosa na mídia mundial por causa do sequestro pelas FARC. Me lembro que em 2001 quando ela estava em campanha presidencial eu li uma reportagem sobre ela na Veja que já me chamou a atenção. Eu tinha gostado do seu perfil e estava torcendo por ela. Poucos meses depois disso ela foi sequestrada, assim como o mundo inteiro, eu fiquei chocada e chateada. Durante todo o tempo que durou seu cativeiro eu procurava saber das notícias. Por coincidência em 2004 quando estava em Paris participei por acaso por alguns minutos de uma passeata que estava tendo pela sua libertação e em 2008 em Buenos Aires também dei de cara com outro protesto a favor da sua liberdade. As vezes quando a midia ficava muito tempo sem dar notícias dela eu buscava seu nome no Google, mas as notícias eram sempre as mesmas, seu martírio continuava. Em 2007 quando divulgaram aquela foto dela em cativeiro magra, depressiva e doente, eu fiquei completamente revoltada. Em julho de 2008 quando ela finalmente foi libertada pelo Exército da Colômbia na cinematográfica Operacion Jaque (Operação Xeque-mate) eu chorei ao ver na TV. Ela se tornou uma heroína para mim, procuro acompanhar todas as suas entrevistas pelo YouTube. Foi durante essa época em que as FARC estavam em grande evidência que a Colômbia lançou no mundo inteiro essa forte campanha para o turismo "El riesgo es que te quieras quedar". Eu dizia que apesar que querer conhecer o país não iria enquanto ela não fosse libertada. O livro é tão intenso que devorei em poucos dias. Para aprofundar o assunto, comprei por lá o livro Operacion Jaque - La verdadera historia e terminei também durante a viagem. Ele narra como foi planejada a memorável operação de resgate que enganou os guerrilheiros, devolveu a liberdade a 15 pessoas (elegeu um presidente!) e entrou para a história.

Assim como nós no Brasil, a Colômbia precisa se livrar de muita gente ruim para conseguir ser um país melhor. Muito sabiamente Ingrid defende a idéia de que "a mais valiosa das liberdades é a de decidir quem queremos ser".

"Encadenada del cuello a un árbol, desposeída de toda libertad, la de moverse, sentarse o pararse, hablar o callar, la de comer o beber, y aun la más elemental de todas, la de aliviarse del cuerpo... Entendí —pero me tomó muchos años hacerlo— que uno guarda a pesar de todo la más valiosa de las libertades, la que nadie le puede arrebatar a uno: aquella de decidir quién uno quiere ser." Ingrid Betancourt

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Yoga in my Hometown

A idéia surgiu na mesa do bar. Estávamos no "La Boca" eu, o Luiz e o Rodolfo (a Moara estava kicking guys' asses num Rally, pra variar!). O Rodolfo estava contando do curso de filmagem e edição que ele estava fazendo, aí eu pedi que ele filmasse para mim uma sequencia de Yoga, que poderia me ser útil já que em pouco tempo eu teria que procurar emprego. Eu havia pensado em algo simples, mas pelo visto simples não existe no vocabulário do Rodolfo (segundo o Luiz, ele é um cara que veio ao mundo for fun e ele se diverte com tudo o que faz). Já pediu uma caneta pro garçon, pegou um guardanapo, começou a viajar e escrever o "roteiro". Empolgado do jeito que é: "Então vamos amanhã! Ah não, amanhã tem show do Iron! Então domingo!" "Assim, tão rápido? Nem vai dar tempo de eu fazer uma dieta..." "Fechado?" "Fechado!"
No domingo de manhã os dois estavam "cozidos" de terem ido ao show, mas eu tinha dormido "o sono da beleza"! "Peraí que eu preciso pegar o roteiro!" E lá vai ele com o guardanapo numa mão e a câmera na outra. Saímos pelos cantos mais legais da cidade, inclusive um pedacinho da zona rural onde a gente sai para andar de bicicleta. Fazia um dia lindo e estava uns 30 graus. Foi uma manhã super divertida que eu me senti uma estrela, com um filmando e outro fotografando!  O resultado foi esse:


Algumas fotos do making of:


  
 

sábado, 2 de abril de 2011

Nostalgia

Sábado passado passei a tarde com minha melhor amiga de infância, a Fá. Como ela mesma disse: "Dizem que amizade boa de verdade é assim. A gente pode ficar o tempo que for sem se ver e até sem se falar, mas o lugar no coração continua ocupado e o carinho e o sentimento de amizade não mudam."
Almoçamos, e depois passamos uma tarde deliciosa no Parque Villa Lobos. A melhor parte do dia foi quando fomos para seu apartamento e ela abriu uma caixa (que não era a de Pandora!) com diversos bilhetinhos que eu havia mandado para ela quando tinhamos 15 ou 16 anos. Foi hilário ver como era nossa cabecinha adolescente... Achavamos que tudo na vida se resolveria quando encontrássemos nossos principes encantados, ou quando passássemos no vestibular! Quanta ingênuidade...
Engraçado, que as vezes o fato de passarmos algumas horas com uma pessoa querida e importante na nossa vida nos faz ter ainda mais saudade. Saudade daquele tempo, saudade da Fá, saudade de quem eu era.

Uma tarde com a Fá
Cartinha dos anos 90 e uma das diversas músicas que a Fá compôs

A noiva mais linda que já vi

E ela encontrou seu príncipe, passou no vestibular, virou doutora. Mal sabiamos que quando tudo isso acontecesse é que a vida mal havia começado.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Tributo às amigas inesquecíveis

Hoje foi meu último dia de trabalho na Energy Sport. Foram mais de dez anos, que passaram voando. Fiz amizades muito intensas e significativas e não tinha noção de quanto fui querida. Hoje de manhã, no caminho, eu já estava com um nó na garganta, mal podia acreditar que era a última vez que eu entraria lá para dar uma aula. Nunca vou me esquecer de todas as pessoas que estiveram presentes no meu dia a dia nesses últimos anos, em especial das que estão neste vídeo, que fizeram parte não só da minha vida profissional mas da minha vida pessoal, como grandes e fiéis amigas. Eu nunca imaginei que fosse tão difícil me despedir de todas elas. O choro saiu durante a festinha de despedida e permaneceu engasgado pelo resto do dia, inclusive agora.



sexta-feira, 25 de março de 2011

Esse médico é bom!

Já fazia uns 4 anos que Dona Santa, a avózinha do Luiz, dizia ter 82 anos. Com certeza esquecera que a cada ano somamos mais um, mas isso não vem ao caso. Tirando algumas confusões em sua cabecinha, sua saúde era invejável. No entanto, Dona Santinha cismava que havia algo de errado. A cada médico que ia saía decepcionada, pois eles sempre diziam: "Parabéns, Dona Santa, sua saúde é de ferro, não há nada de errado". Cansado de ficar levando a mãe de médico em médico, seu filho passou a bola para o sobrinho, o (meu) Luiz.
Luiz ligou para outro médico indicado por seu tio, e levou a avózinha. Dna. Santinha já chegou no consultório munida de todos os exames. Ao contrário dos outros médicos que eram simpáticos e sempre bajulavam a velhinha durante a consulta, este era sério e calado. Fez perguntas objetivas, mediu a pressão e escutou o coração. Depois sentou-se em sua mesa e começou a verificar os exames com um semblante muito sério e sem dizer nada. Enfim, ele virou para a paciente e disse: "Dna. Santa, escute bem: a senhora tem uma doença rara e gravíssima, mas podemos controlar com medicação. Vou receitar um remédio que a senhora deverá tomar duas vezes ao dia, durante as refeições. Não deixe de tomar o remédio, se não a senhora vai morrer! A senhora me entendeu bem?" "Sim senhor". Entregou-lhe a receita, apertou sua mão, e depois a mão do Luiz. Os dois se entreolharam.
De lá, Luiz e a avó foram direto para a farmácia, em silêncio. Enfim, quando saíram de lá com a embalagem de "Multivitaminas com cálcio" na mão, Dna. Santa olha para o neto e diz: "Esse médico é bom!"

*Alguns anos depois deste episódio, Dna. Santa faleceu. Não foi por não tomar o remédio, nem pela doença imaginária, ela estava realmente bem velhinha.