quinta-feira, 5 de maio de 2011

El riesgo es que te quieras quedar

O perigo é você querer ficar - Esse é o slogan do departamento de turismo da Colômbia. Definitivamente não corri esse risco! Embora seja um destino interessante, não é um lugar que eu gostaria de morar.

Havia um bom tempo que eu queria visitar a Colômbia (bendito Discovery Travel & Living!). Era o país que faltava para eu completar a lista de países da América do Sul que eu tinha vontade de conhecer. O Luiz não queria ir de jeito nenhum, precisou de anos para eu convencê-lo, mas do nada a oportunidade surgiu, e lá fomos nós.

Bogotá não foge muito do padrão metrópole latina de colonização espanhola, mas me surpreendeu. A parte histórica embora um pouco degradada e sujinha é bacana. Tem museus ótimos e gratuitos. Como tivemos muito pouco tempo lá, não conseguimos ver muita coisa. Fomos no Museu Botero que é muito legal, tem diversas obras dele algumas de outros artistas como Renoir, Dalí, Chagall, Delvaux, Giacometti, Picasso, Miró, entre outros. Grátis!! Também pegamos o bondinho para o Cerro Monsserrate que tem uma vista maravilhosa para a cidade. Apesar do caos do trânsito na cidade (muitos carros, buzinas incessantes, respeito nenhum aos pedestres - pior que no Brasil) me impressionei com o planejamento urbano. Com exceção da zona central, todos os prédios da cidade tem altura limitada, o que dá um aspecto muito agradável e não tira a luminosidade. As ruas são largas e a cidade é rodeada por morros com a mata preservada e sem favelas. É claro que se vê pobreza, mas bem menos que eu imaginava. Gostei muito do Café Juan Valdez, que se vê por toda a cidade num estilo Starbucks mas com café de verdade.

Em seguida fomos para Cartagena de Indias. A parte histórica (cidade murada) é muito linda e bem conservada. A parte nova também é bem bonita. Tirando a "faixa de Gaza" (gíria do Luizão, é claro!) que nós precisávamos atravessar para ir do hotel até a parte turistica que parecia a 25 de Março... Há turistas do mundo inteiro na cidade e muita coisa para ver e fazer. As praias da cidade não são muito boas, mas fomos de lancha para a Playa Blanca e conseguimos ver em Cartagena uma verdadeira praia do Caribe.



De lá pegamos um voo para San Andrés, uma ilha próxima à Costa Rica mas que pertence à Colombia. Eu costumo estudar bastante os destinos antes de viajar, mas acabei não lendo nada sobre San Andrés e deixei como "destino surpresa". Pegamos um taxi do aeroporto ao hotel e só vimos uma parte bem feinha da ilha, parecia periferia dessas cidades do nosso litoral. Havia centenas de motinhos tipo vespa com três, quatro, até cinco pessoas, às vezes até cachorro, todo mundo sem capacete. Apesar das dimensões reduzidas, o trânsito assim como em Cartagena e Bogotá era caótico e motoristas mal-educados. Chegamos no hotel, e ficamos aliviados ao ver a praia! Simplesmente maravilhosa. No final do dia, resolvemos pegar um ônibus para o centro, também sem saber o que tinha por lá. Foi "pitoresco" - o motorista indo a milhão nas ruas estreitas, esburacadas e cheias de gente. Não sabíamos onde tinhamos que descer, mas quando começamos a ver umas coisas mais bonitas descemos, e descobrimos (o que provavelmente todo mundo que vai a San Andrés já sabe antes de ir) que lá é zona de livre comércio, então dá-lhe free shop! Essa parte da cidade é bacana, a praia do centro maravilhosa, mar azul e areia branca, e um agradável calçadão com várias lojas. Com a proximidade da nossa mudança para o Canadá, não podemos comprar nada, mas acabamos comprando uma coisa muito útil: malas! Super baratas! E lá vamos nós no busão carregando nossas novas malas!


Uma outra coisa que deixou minha viagem para a Colômbia ainda mais interessante foi o fato de estar lendo o livro da Ingrid Betancourt (No hay silencio que no termine). É curioso como sou fascinada por ela desde antes de ter se tornado tão famosa na mídia mundial por causa do sequestro pelas FARC. Me lembro que em 2001 quando ela estava em campanha presidencial eu li uma reportagem sobre ela na Veja que já me chamou a atenção. Eu tinha gostado do seu perfil e estava torcendo por ela. Poucos meses depois disso ela foi sequestrada, assim como o mundo inteiro, eu fiquei chocada e chateada. Durante todo o tempo que durou seu cativeiro eu procurava saber das notícias. Por coincidência em 2004 quando estava em Paris participei por acaso por alguns minutos de uma passeata que estava tendo pela sua libertação e em 2008 em Buenos Aires também dei de cara com outro protesto a favor da sua liberdade. As vezes quando a midia ficava muito tempo sem dar notícias dela eu buscava seu nome no Google, mas as notícias eram sempre as mesmas, seu martírio continuava. Em 2007 quando divulgaram aquela foto dela em cativeiro magra, depressiva e doente, eu fiquei completamente revoltada. Em julho de 2008 quando ela finalmente foi libertada pelo Exército da Colômbia na cinematográfica Operacion Jaque (Operação Xeque-mate) eu chorei ao ver na TV. Ela se tornou uma heroína para mim, procuro acompanhar todas as suas entrevistas pelo YouTube. Foi durante essa época em que as FARC estavam em grande evidência que a Colômbia lançou no mundo inteiro essa forte campanha para o turismo "El riesgo es que te quieras quedar". Eu dizia que apesar que querer conhecer o país não iria enquanto ela não fosse libertada. O livro é tão intenso que devorei em poucos dias. Para aprofundar o assunto, comprei por lá o livro Operacion Jaque - La verdadera historia e terminei também durante a viagem. Ele narra como foi planejada a memorável operação de resgate que enganou os guerrilheiros, devolveu a liberdade a 15 pessoas (elegeu um presidente!) e entrou para a história.

Assim como nós no Brasil, a Colômbia precisa se livrar de muita gente ruim para conseguir ser um país melhor. Muito sabiamente Ingrid defende a idéia de que "a mais valiosa das liberdades é a de decidir quem queremos ser".

"Encadenada del cuello a un árbol, desposeída de toda libertad, la de moverse, sentarse o pararse, hablar o callar, la de comer o beber, y aun la más elemental de todas, la de aliviarse del cuerpo... Entendí —pero me tomó muchos años hacerlo— que uno guarda a pesar de todo la más valiosa de las libertades, la que nadie le puede arrebatar a uno: aquella de decidir quién uno quiere ser." Ingrid Betancourt