sexta-feira, 27 de março de 2009

Memória seletiva



Nunca fui muito disciplinada para escrever.

Sabe quando você é criança e todas as meninas tem os seus "diários"? (Na minha época era moda aqueles com uma chavinha, nos aniversários a gente ganhava um monte!). Então, acho que na época eu devo ter começado a escrever uns quatro, mas nunca fui até o fim.

Já na adolescência o negócio era ter a tal da "agenda gorda". Eu explico este "gorda": a moda era colar de tudo nas agendas, frases e fotos recortadas da revista Capricho (quem não leu?), papel de bala que alguém te deu, bilhetinhos das amigas, ingresso do cinema, etc, etc, etc... Pois é, todo ano eu começava uma agenda. Passava horas fazendo uma capa legal, os primeiros dias do ano eram uma maravilha, mas antes de março acabar (nem lembro se cheguei tão longe!) a agenda já ficava esquecida.

Agora a ferramenta é o Blog. E estou tentando manter um certo rítmo na escrita neste aqui. O problema é que muitas coisas interessantíssimas aconteceram nestes 30 anos da minha vida, e infelizmente por falta de disciplina, não foram registradas nem no diário e nem na agenda...

Este blog como eu já disse antes é meu espaço de memórias, tudo que eu achar relevante relembrar e registrar será relembrado e registrado, mas é claro que sem uma ordem cronológica. Nem sei se vou conseguir me lembrar de tudo, nem se terei paciência de escrever tudo, mas vou tentar.

Uma vez a Irmã Diretora da minha escola (Irmã Dulce) foi nos dar boas vindas no primeiro dia de aula, e disse o seguinte: "Nós aprendemos muita coisa na escola, e ficamos preocupados em nos lembrar de tudo. Mas o nosso cérebro não foi feito para lembrar, e sim para esquecer, pois as coisas realmente relevantes a gente com certeza nunca esquece."

É claro que só vou me lembrar do que quero lembrar! ; )

segunda-feira, 23 de março de 2009

Passando fome na Europa

Este foi um dos dias mais engraçados da minha vida!
Quatro garotas de vinte e poucos anos, viajando pela Europa de trem. Não havia Euro ainda, e perdia-se bastante com o câmbio. Estávamos vindo da Itália, onde na época 1 real valia 1000 liras, e era bem barato para a gente. Para se ter uma idéia, dava pra comprar três "bottiglie" de vinho com 10000 liras, ou dez reais. Já na Alemanha e Suíça era diferente, o dinheiro bem mais valorizado que na Itália, e consequentemente albergues e alimentação bem mais caros. Fomos à Suiça para nos encontrar com alguns amigos em Zurique, mas acabamos nos planejando mal e ficando por lá mais tempo que o necessário. Em um dia já tinhamos visto tudo (a cidade é pequena, bonita, mas sem muitos atrativos), e ainda havia um dia inteiro até pegarmos o trem de volta para a Itália. A grana estava curta, mas como não tinhamos muitas opções, resolvemos pegar um ônibus para Lucerne e para os alpes, pois duas das meninas nunca tinham visto neve e queriam muito ver. Lembro que a passagem custou 100 dollares, que era todo o dinheiro que tinhamos para aquele dia. Resolvemos ir mesmo assim, pois podíamos passar fome, mas não podíamos deixar de ver os alpes!
Então tivemos que improvisar. No café da manhã do albergue, além de comermos feito loucas, enchemos nossas mochilas com o que dava. Até embalagenzinhas de patê que tinha um formato de salcicha e um gosto estranho pra burro. No meio da tarde, deu pra fazer um lanchinho! Ao regressar em Zurique, sabendo que passariamos a noite no trem, bateu a fome novamente. As quatro então juntaram todas as moedinhas de Franco Suíço que tinhamos nos bolsos para ver o que daria para comprar no supermercado. Para nossa surpresa, não dava para nada. Uma das amigas, super gente boa, mas bem patricinha, num tom dramático e com voz de choro, disse: "Nunca passei fome na minha vida!" É claro que começamos a gargalhar, e foi aí que começei a reparar que os carrinhos do supermercado para serem retirados, o cliente precisava colocar uma moeda de 1 Franco, a qual seria devolvida na hora que o cliente devolvesse o carrinho no devido lugar. Por sorte vários suíços ou eram bem preguiçosos ou não estavam nem aí para as suas moedinhas. Chamei as 3 e falei: "Fiquem de olho nos carrinhos perto do caixa que não foram devolvidos, tragam para mim!" Depois de uns 10 minutinhos deste trabalho "voluntário", já tinhamos mais que o suficiente para um bom lanchinho, que seria saboreado no trem, a caminho de Florença...